SÓ CARLOS GOMES – REENCONTRO ESPIRITUAL COM SUA MÚSICA

SÓ CARLOS GOMES – REENCONTRO ESPIRITUAL COM SUA MÚSICA

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2015
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SÓ CARLOS GOMES – REENCONTRO ESPIRITUAL COM SUA MÚSICA

“Aproximamo-nos, curiosos, da Pedreira do Chapadão, na expectativa de rever o lugar, onde assisti pela primeira vez, em Campinas, uma ópera ao ar livre – a “Aida” de Giuseppi Verdi, contemporâneo de Carlos Gomes. Chegamos com antecedência no local, para verificar as condições do espetáculo: alguns músicos já estavam ali, aguardando para testar o som. O local já estava montado, bem abaixo da ferradura de pedras naturais, que circundavam um palco, montado e armado com todo o arsenal acústico necessário para um resultado favorável a um  evento de tanta importância.
É preciso saber que, agora, não mais Carlos Gomes é comemorado e espremido em uma única semana, mas se estende por todo o mês de setembro e se espalha por múltiplos espaços, o que resultou em despertar a população, maciçamente, para a genialidade da música de Carlos Gomes, quase ignorada, por mais de um século, na sua própria terra. O que o salvou, durante tanto tempo, foi o esforço das associações culturais, e o empenho de diferentes administrações, a teimosa permanência da sua semana e a excelência da nossa Orquestra Municipal, aprimorada pelas oportunidades de ser regida pelos maiores maestros do país e do Mundo, o que resultou, na verdade, em uma vivência internacional.  A “Semana” foi substituida pela atividade intensa de um mês inteiro, no qual a orquestra terá , a partir de agora, importância fundamental para que se produza Carlos Gomes no que tem de mais significativo – a Ópera – que atrairá, com certeza, um público despertado, com certeza, pelo carinho com que vem sendo apresentada, na excelência da nossa orquestra municipal, importância e genialidade da música de nosso conterrâneo.  Efetivamente, não esperávamos que esse concerto na Pedreira do Chapadão nos trouxesse tão fortes e inesquecíveis emoções.
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Começou com a incerteza do tempo, que talvez haja afastado alguns temerosos de enfrentar uma chuva. Mas, de repente, não mais que de repente, o Tempo parou! Nem vento, nem garoa, nem nuvem, nem nenhum sinal de instabilidade…  A Lua Cheia, branca e brilhante, dominava o Céu. E se fez Silêncio!
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E todos ficaram fascinados pela mulher loura e linda que fez dos seus gestos de regente um verdadeiro  poema para poder mostrar, em toda a sua integridade, os trechos escolhidos de óperas de Carlos Gomes. Começou com a abertura da Fosca, antecipando sua  tragédia, com a melodia triste  e solitária da flauta, evocando o romantismo tão usual da época de Carlos Gomes e de Verdi,  que representam, sem dúvida, a alma sofrida da ópera italiana e a inovação carismática do caráter mestiço de Carlos Gomes, que marcou toda a operística gomesiana, em plena Itália. E a mulher, loura, a Ligia regente, foi tomada pela emoção que a música lhe inspirava. Falava, eloqüente, no inicio de cada trecho, apresentando um barítono, um tenor e uma soprano, despertando no público uma curiosidade consciente, do personagem que representavam.
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E a sensação que nos transmitiu, com sua convicção, é de que Carlos Gomes estava ali, vivo, vivíssimo, através da sua música, reflexo final do entusiasmo do menino humilde, filho de Maneco músico, que regia a Banda do interior de São Paulo. Mas o Tonico de Campinas, que acreditava no seu talento, conquistou, na sua humildade, o Mundo da ópera na Italia, acreditando firmemente no seu destino de música. O concerto prosseguiu num entusiasmo crescente, com o público se desmanchando em aplausos e bravos ao fim de cada trecho. Campinas começava a entender o seu gênio e a reconhecer nele alguém que, acima de tudo, teve a coragem de levar para o refinado povo europeu o índio, a selva tropical, a força indômita do amor entre as raças, superando preconceitos e espalhando o amor entre os povos e fazendo assim, através da força nova da sua música, a maior e mais duradoura influência do seu país pelo mundo afora.
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Ao fim do concerto,  a eterna Niza Tank, nos seus oitenta anos, com sua voz de pássaro, o concerto se encerrou, tendo mostrado, em alguns momentos, inesperadamente, coreografias  vivas das  mariposas nativas,  como que atraídas pela música, sobrevoando palco e artistas. Niza cantou   “Quem Sabe?”, acompanhada também pelas vozes emocionadas do público. Este, com certeza, foi um concerto raro, que deixou evidente a  genialidade de CARLOS GOMES!!!  Para nós, a força mágica da música de CARLOS GOMES! Para nós, depois deste setembro cheio de perspectivas, a sua música e a sua Ópera estarão salvas. E que Deus as abençoe para sempre!”
Crônica de Léa Ziggiatti
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